segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 37 - Por Luiz Domingues

3) Sobre os bastidores:

Conforme eu já descrevi, o Victoria era uma casa labiríntica em sua arquitetura. A fachada não dava ideia do quanto era grande o estabelecimento, e com tantos emaranhados a conter ambientes diversos, câmaras secretas, saídas inusitadas para outros espaços etc. 

A decoração era riquíssima em detalhes e fora um luxo naquele começo de anos oitenta, já possuir um serviço de TV interna, com monitores em todos os ambientes e a exibir filmes sob orientação Sci-Fi, recém lançados por Hollywood tais como: "Tron" e "Blade Runner", por exemplo. 

O ambiente era muito burguês, mas apesar de ser dispare, não havia nenhuma hostilidade por parte do público formado predominantemente por garotos e garotas bem-nascidos e malcriados. Pelo contrário, mesmo não sendo Rockers, bastava qualquer uma das três bandas fixas começar a tocar, e eles dançavam, gritavam e aplaudiam. Na verdade, queriam mesmo divertirem-se a beber, drogarem-se e arrumarem parceiras sexuais, certamente. 

Muita gente do meio musical circulava ali. Lembro-me do Peninha Schimdt, Kid Vinil, e outras figuras. 

Uma certa vez, um sujeito cujo nome não recordo-me, nos cansou, eu e Rubens, por uns vinte longos minutos a falar de suas bravatas no meio da produção musical. Com cabelo cor de laranja e corte muito esquisito, bem ao gosto do modismo "New Wave", ele abordou-nos ao dizer ser produtor musical. 

Queria que o procurássemos no decorrer da semana em seu escritório, para que entregássemos o nosso material, pois (supostamente), dizia que esteve envolvido na produção dos shows do Van Halen, que viera recentemente ao Brasil, e aventava a possibilidade em colocar-nos para "abrir" show o Kiss, que segundo ele, viria em junho. Então, ele nos forneceu várias palhetas customizadas do Van Halen e o seu cartão. Não era um empresário, propriamente dito, devia ser um subalterno, mas ficava a circular pela noite a botar banca de. 

Esse impetuoso rapaz somente fez uma observação como ressalva: teríamos que cortar os cabelos à New Wave, e repaginar o figurino. Ao pensar bem, ele não estava errado. Éramos anacrônicos em 1983, principalmente eu e o Rubens, com visual de Rockers setentistas. 

O rapaz falou em cada um de nós adotar o cabelo de uma cor diferente, e usar aquele visual de Duran Duran. Ora, se fosse algo realmente concreto de sua parte, ao menos, poderíamos até cogitar a hipótese, mas daí a sair por aí e a modernizar-se à toa, a contragosto e sem uma perspectiva real, seria uma estupidez, principalmente pelo fato do principal quesito ser incompatível com esse visual trôpego: teríamos que mudar o som também!

Continua...

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