quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 62 - Por Luiz Domingues




Alguns dias de folga foram estratégicos para repor a energia. Essa foi uma antiga reivindicação dos mais veteranos, pois estavam sem descanso desde 1981, praticamente, visto que haviam emendado o período de crescimento da banda, à primeira turnê, "Obscenas Brasileiras", e sem escalas, a entrar na turnê subsequente :"Sem Indiretas". Sendo assim, o primeiro show do novo ano, só ocorreu em 14 de janeiro de 1984, e sob um local inusitado para os padrões do Língua de Trapo. Isso por que foi um show fora do parâmetro normal em Teatros ou pelo circuito universitário, onde tradicionalmente apresentávamo-nos e desta feita, o espetáculo ocorreria em um salão que normalmente promovia noitadas regadas a música mecânica, que esporadicamente fazia apresentações ao vivo, e cujo público alvo, eram Hippies; Bichos-Grilo; Rockers e apreciadores da MPB  / Hippie, setentista. Tratava-se de uma casa chamada, "Led Slay", localizada no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.
Eu conhecia o salão, embora nunca houvesse apresentado-me ali anteriormente, mas o Língua de Trapo, não, e assim, seus componentes sentiram-se bastante deslocados em meio a um ambiente onde não estavam acostumados a atuar. Após o soundcheck, fomos levados por um produtor, para jantar nas proximidades. Eu morava no Tatuapé nessa época e conhecia bem o bairro. Poderíamos ter ido a uma série de lugares bons que existiam, com todo o tipo de comida disponível, mas o tal produtor levou-nos na lanchonete de uma tapeçaria, próxima ao Led Slay, e tal ambiente proporcionou-nos um momento hilário.
Digo isso, pois essa tapeçaria (que era enorme e famosa na região), costumava promover propagandas cafonérrimas na TV, e assim que a Kombi que levou-nos, estacionou, as piadas e as imitações dos personagens boçais que faziam anúncios na TV, começaram. Esgotamos a nossa cota de risadas nessa noite, com tantas pilhérias que foram criadas. De volta ao local do show, observamos que havia um bom público, mas os membros do Língua de Trapo, esboçavam preocupação, pois seria um tipo de público que não conheciam, e portanto, havia um certo receio de que não entenderiam a proposta da banda, a exigir que tocássemos Rock. Eu os tranquilizei, ao dizer-lhes que não tratava-se de um público Rocker radical, pelo contrário, tratava-se de um perfil de público que apreciava e muito a MPB, e que mesmo ao não conhecer o nosso trabalho (supostamente), dificilmente hostilizar-nos-ia. O Pituco Freitas fez uma brincadeira engraçada, antes de entrarmos em cena, ao empreender trejeitos performáticos, quando subiu ao palco a gritar : -"isto é um simulacro"... rimos muito, a entrarmos em cena, quase desconcentrados. Mas o show foi muito bom, pois mesmo por não ser o habitat natural da banda, o público respondeu bem, ao apreciar as piadas, a performance, e a rir muito, como o padrão normal nos shows do Língua de Trapo. E foi o maior público que tivemos nessa fase comigo de volta à banda, pois havia cerca de duas mil pessoas a assistir a apresentação. Apesar de ter sido um show feito em uma casa onde a estrutura não era adequada (por não haver cenografia), concluímos o show normal, inclusive com as intervenções de áudio, e o telão com as sketches de Super-8.
Aliás, o cineasta, Louis Chilson, foi um dos animados nesta noite, ao divertir-se muito com a invenção de última hora do Pituco Freitas, e por conta disso, ficar a repetir a palavra, "simulacro", a noite inteira.
Continua... 

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