quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 54 - Por Luiz Domingues



Da estreia no TUCA em diante, minha vida entrou em um ritmo frenético. Claro que eu adorava isso ! Não possuir nem um dia de folga, seria tudo o que eu queria na vida. E nos mínimos espaços que dispunha, eu dava um jeito em ensaiar com A Chave do Sol, pois nessa altura, estávamos praticamente acertados com o selo Baratos Afins, e dessa forma, agendamos a gravação do primeiro disco dessa minha outra banda, para janeiro. E vou contar-te : Mesmo não por ser uma banda de Rock, Pop ou coisa do gênero, o Língua de Trapo tinha um assédio de fãs, também. Claro que isso afetava um pouco o fator psicológico, inevitavelmente, e lógico, eu tinha apenas 23 anos de idade, nessa época. O próximo passo foi uma nova mini temporada em teatro, mais uma ocorrida na mesma cidade, em um espaço ínfimo entre uma e outra, e sob três teatros com renome. Inacreditável pensar em uma coisa dessas hoje em dia (e sei que já expressei esse sentimento anteriormente na narrativa), mas fico mesmo estupefato como essa realidade mudou para pior nos dias atuais.
Nota na Revista "Veja", sobre a temporada Tuca / Masp / GV' 83.Infelizmente, não tenho a parte do serviço escrito. Acervo de Julio Revoredo

E assim, lá fomos nós para o teatro da fundação Getúlio Vargas, o popular Teatro da GV. Era localizado na Avenida 9 de julho, próximo à saída do famoso túnel de mesmo nome, no sentido bairro / centro. O teatro da GV era um espaço tradicionalíssimo na cidade, com um histórico a registrar shows memoráveis da MPB e do Rock.
Confesso que fiquei um pouco emocionado por pisar naquele palco, onde assistira diversos shows nos anos setenta. Então, a temporada do Língua de Trapo ocorreu entre os dias 24 e 27 de novembro de 1983.

Fotos promocionais publicadas no jornal, Folha de São Paulo, a promover a turnê, "Sem Indiretas"do Língua de Trapo, pelos teatros : Tuca / Masp / GV, em 1983, onde usamos figurinos de diversas partes do show. Eu e o baterista, Nahame Casseb, usamos os chapéus de "cowboy"... acervo de Julio Revoredo

No dia 24, uma quinta-feira, movimentamos um público pequeno para os padrões do Língua de Trapo : apenas quarenta pessoas. Na sexta, dia 25, mais que dobrou, com noventa pagantes. Dia 26, sábado, quatrocentas e trinta pessoas passaram pela catraca, e no domingo, dia 27, arregimentamos duzentas e cinquenta pessoas.
Rara foto do Língua de Trapo ao vivo, no Teatro da GV, em 1983. Com Pituco Freitas em destaque na performance, estou na linha de trás com Naminha Casseb à bateria e Serginho Gama, ao seu lado. Acervo de Pituco Freitas

Lembro-me que nessa mini temporada, várias equipes de reportagem de TV apareceram para cobrir com entrevistas prévias e exibir matérias nos telejornais. Aliás, isso fora uma constante com o Língua de Trapo, que possuía uma visibilidade muito boa na mídia. Foram bons shows, embora o teatro estivesse sob um clima um tanto quanto decadente. De fato, não passou muito tempo, e a fundação Getúlio Vargas parou de usá-lo como espaço cultural público, e ele tornou-se apenas um auditório para as atividades acadêmicas da faculdade. Não havia nem um camarim estruturado mais. Improvisavam uma sala de aulas, muito ampla, é verdade, mas sem a estrutura de um camarim profissional. Uma história engraçada dessa temporada, foi protagonizada por dois membros da banda, cujos nomes não citarei, para evitar constrangimentos. Foi assim : da janela desse camarim improvisado, víamos o movimento na Avenida 9 de julho. Em um momento de espera entre o soundcheck, e o início do show (não lembro-me exatamente qual foi o dia, mas desconfio ter sido na sexta-feira), os rapazes espantaram o tédio, de uma forma inusitada.
A aproveitar-se do fato da janela ser enorme, chamavam a atenção de transeuntes na calçada, para em seguida abaixar as calças e mostrar-lhes as suas nádegas despidas. As reações foram as mais diversas, e isso provocava um ataque histérico de risos entre eles, e nos demais, no camarim. Só resolveram parar quando um funcionário da GV apareceu, ao dizer-nos que um senhor idoso estava a reclamar na portaria, que fora ultrajado etc e tal. Claro que negaram a autoria disso, e não aconteceu nada em termos de retaliação, mas foi o sinal de que deviam parar com a palhaçada...
Continua...
 

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