sábado, 4 de maio de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Quarteto Toulon) - Capítulo 37 - Por Luiz Domingues

Tenho uma história paralela, mas que tem a ver com este capítulo também, por ter ocorrido nessa época do "Quarteto Toulon".
 

O Sérgio Henriques (tecladista com o qual toquei na banda de apoio de Tato Fischer, e também como membro do Terra no Asfalto), participara da turnê, "Saudade do Brasil", ao atuar como segundo tecladista da banda de apoio de Elis Regina. Depois que acabou, teve férias da turnê com Elis Regina, e chegou a tocar conosco na volta do Terra no Asfalto, ao final de 1980, mas logo  deixou-nos novamente, para ir tocar na turnê do LP "Lança Perfume", da Rita Lee. Encerrada essa turnê da Rita, voltou a ensaiar com a Elis, desta feita para tocar na nova turnê, chamada : "Trem Azul".
E assim que a turnê começou em São Paulo, o Sérgio sinalizou que poderíamos assistir uma edição, desde que não fosse nos dias mais concorridos, sexta; sábado e domingo. E assim fomos, em uma quarta-feira. O Sérgio apareceu na porta da casa de espetáculos, para cumprimentar-nos, e liberou quatro ingressos, eu (Luiz Domingues); Cido Trindade; Pitico Freitas, e a Vilma, fomos ver o show da Elis Regina, naquela noite (não recordo-me da data correta, infelizmente).
Apesar de ser uma quarta-feira, e estar frio, o público ali presente na fila da bilheteria, foi enorme. Fomos orientados pelo Sérgio a deixar todo mundo entrar, e só depois irmos à bilheteria fornecer nossos nomes, e apanhar os convites em regime de cortesia. Mas enquanto o público entrava, aconteceu um momento cinematográfico, do qual nunca esquecer-me-ei...
Eis que subitamente, surgiu uma limusine preta e enorme, típica norteamericana, e naquela época era raro ver uma dessas. Hoje em dia, são muitas pelas ruas de São Paulo, mas naquela época, chamava muito a atenção. Aí, desceu um motorista negro e alto, com um uniforme impecável, azul pavão, com os botões da casaca dourados, quepe e luvas brancas. A multidão parou para ver, a conversa parou nas rodinhas formadas pelas pessoas ali a aguardar.

Então, o motorista abriu a porta traseira e saiu do carro : Caetano Veloso, com as mãos dadas com Sonia Braga, e Gilberto Gil com sua nova esposa, Flora. Nesse instante, a reação das pessoas no entorno, foi ridícula ! As pessoas em uníssono, soltaram um -"Ooohh"... a abrir o caminho para que os dois casais famosos entrassem de uma forma triunfal, como se fosse a cerimônia de entrega do Oscar...
Nós quatro, os hippies deslocados em meio àquela plateia burguesa, formada por homens engravatados e senhoras com seus vestidos longos, e casacos de pele... enfim, ficamos sob um ataque de risos... passada essa comoção subserviente, o público "plebeu" entrou na casa de espetáculos para que só depois, os "hippiezinhos" pudessem entrar. Tratava-se de uma casa nova de shows em São Paulo, filial do Canecão, do Rio de Janeiro. Infelizmente esse "Canecão" paulistano não prosperou, e poucos meses depois, fechou as suas portas. Talvez por ser localizado na zona norte, onde não havia tradição para casas noturnas naquela época. Hoje em dia, a zona norte de São Paulo, está lotada por casas para todo o tipo de eventos e gostos musicais, mas naquela época, os estabelecimentos que lotavam, eram mesmo nas zonas, sul e oeste de São Paulo.

O Sérgio estava bem alegre, e chamou-nos para participar da "alegria", onde o pessoal da banda estava, em um recanto longe dos camarins. Lembro do pessoal dos sopros, Bocato; Bangla; Farias, e Garfunkel, nessa confraternização. O show foi impecável. O repertório interpretado por Elis Regina, mesclou clássicos do repertório da Elis, com as músicas do novo LP, "Trem Azul".
Posso afirmar que apesar de ter sido um show de uma cantora da MPB, a sonoridade tinha quase pegada de Rock, com um peso contundente, e arranjos ousados, cheios de momentos de virtuosismo instrumental. Apreciei muito o som do baixista, Luisão. Ele extraiu um som aveludado do seu Fender Precision Bass, e tocou demais, com um swing mezzo jazzistico, mezzo Soul, além das brasilidades, das quais foi um mestre.
O César Camargo Mariano não estava nessa banda, pois havia brigado com a Elis, na ocasião. Menos de seis meses depois, ela faleceria, e nas imagens do jornalismo que cobriu o sepultamento, o Sérgio Henriques e sua esposa, Celina Silva, apareceram bastante, e com indisfarçável tristeza em destaque, muito abalados. Até hoje, quando surge retrospectiva da morte da Elis Regina, essas imagens passam com a presença marcante do casal.
Em 2008 ou 2009, não lembro-me ao certo, a Rede Globo fez um especial da Elis, ao mesclar imagens reais e dramaturgia. Nas partes reais, a Celina Silva prestou vários depoimentos. E assim foi a noite em que o efêmero, "Quarteto Toulon" foi em peso ver a grande Diva da MPB, Elis Regina... 

Abaixo, veja o vídeo de um trecho do show da Elis dessa turnê, infelizmente, derradeira para ela :

Não é exatamente do dia em que fomos, mas dá uma ideia do que vimos. Dá para ver bem o Sérgio Henriques aos teclados. A pegada é quase de show de Rock, com os músicos que a acompanhavam a tocar com pegada e virtuosismo.
Continua...

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