quarta-feira, 24 de abril de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 23 - Por Luiz Domingues

Por incrível que pareça, foi um dos shows mais sensacionais que eu fiz, logicamente ao considerar-se apenas o período inicial da minha carreira, de 1976 até ali. Apesar de ser um show baseado em covers internacionais, estávamos a tocar em um teatro, e não no tímido palco de um bar. Houve iluminação e um P.A. com qualidade, camarim etc. Eu já experimentara lampejos dessas condições ideais nas temporadas com o Tato Fischer, poucos meses antes, mas salvo um ou outro show avulso, no todo, houvera sido uma experiência com pouco resultado expressivo, em termos de público.
Agora, apesar de não ter sido um show com música autoral, pela primeira vez, vi um teatro lotado à minha frente e com um público enlouquecido, do começo ao final. Claro... fora a tal história em usufruir-se do sucesso garantido de outrem, portanto, uma comodidade a diminuir bastante o nosso mérito.

E o Tato encaixou-se muito bem no esquema. Ele era um pianista muito bom e tinha dotes vocais. Tanto que orientou Paulo Eugênio e Wilson, ao comandar a ambos em ensaios prévios a organizar a harmonia vocal, principalmente nas músicas dos Beatles, que saíram muito bonitas em trio, com ele, Tato a fazer a terceira voz.
A expectativa foi ótima no camarim, desde a passagem do som, quando sentimos a estrutura boa que o teatro possuía. Foi o primeiro show do Terra no Asfalto sob condições técnicas superiores, pois éramos uma banda cover acostumada aos palcos minúsculos e escuros de casas noturnas, tão somente.
E melhorou ainda mais quando percebemos que o teatro estava a lotar, por ouvirmos o murmúrio do público. A orientação expressa da direção da escola, foi para falar-se em inglês, o tempo todo. Para tanto, o Paulo Eugênio foi avaliado previamente sob um teste de conversação ministrado por professores da escola, e em sua cúpula, formada por britânicos. E o Tato esteve tranquilo. Tocou e cantou muito bem, pois estava a divertir-se, e sem as pressões inerentes a produção em torno dele, como na sua carreira solo. Dessa forma, descompromissado, com casa cheia e cachet garantido, o astral não só dele, como de todo mundo, ali envolvido, foi ótimo. Só não foi melhor por ser uma apresentação cover. Se fosse música autoral, teria sido ainda melhor, certamente. E um dado interessante e motivador em minha percepção pessoal : eu usei nessa apresentação, uma caixa emprestada pelo amigo, Roatã Duprat, acoplada à minha caixa original do amplificador, Giannini "Tremendão". Parecia uma caixa Snake ou Palmer, mas não havia placa de identificação da fábrica, mas sim um grafite do qual orgulhou-me bastante.
Tratou-se do logotipo da banda setentista "O Terço", e sim, aquela caixa houvera pertencido ao baixista, Sergio Magrão, que a vendera ao Roatã. Foi significava o bastante em meu caso particular, como afirmação pessoal, por ser um símbolo setentista presente ali comigo no palco, a interagir diretamente em minha performance. Sim, esse show marcou-me bastante, pois a rigor, foi a primeira vez que fiz um show de Rock sob um teatro lotado, e com público em frenesi.
Anteriormente já tinha tido experiências boas em teatro, mas com o som mais comedido do Tato Fischer, ou apresentações ainda amadoras do Língua de Trapo, para ser mais específico. O Terra no Asfalto não era uma banda autoral, eu sei, mas a euforia que geramos foi fascinante, daí eu ter essa boa lembrança.
E justamente pelo fato dos alunos não comportarem-se como se estivessem em sala de aulas, é que a cúpula da Cultura Inglesa abortou o projeto, pois o plano inicial seria o de uma série de shows pelas unidades em diversos bairros. Como tornou-se show de Rock e não aula, perdemos a "oportunidade", e assim ficamos somente com a apresentação em Campinas, mantida, e quando eu comentar essa passagem, ficará explicado o por quê dessa apresentação na cidade de Campinas não ter sido cancelada. 

E tanto deu certo essa nova formação da banda, que o Paulo Eugênio animou-se e marcou uma data no Bar Le Café, para alguns dias depois. Como era uma casa nova, e ainda sem alvará para funcionar, a dona pediu para fazermos uma apresentação acústica.

E lá fomos nós, sem o Luis Bola que recusou-se a participar apenas a tocar percussão, no uso de instrumentos com sonoridade leve. Com o Paulo Eugênio a suprir a  percussão (ele pilotava bem o pandeiro de samba; pandeiro meia-Lua; bongô; Cowbell e instrumentos de efeitos), tocamos, com a minha participação ao baixo (o único elétrico, ali), Gereba e Wilson nos violões, e Tato Fischer ao piano. Infelizmente, apresentamo-nos para um público reduzido, com menos de dez pessoas, presentes. 

Mas havia a perspectiva de mais um show garantido na Cultura Inglesa, na cidade de Campinas. Nesse show, cuja data ocorreu no dia 26 de abril de 1980, sabíamos de antemão que apresentar-nos-íamos em num espaço mais tímido, e com volume controlado.

Quanto ao "Le Café", esse bar que ficava na Alameda Lorena, em Cerqueira César (perto da Av. Paulista), seria a nossa porta de entrada para o início da melhor fase do Terra no Asfalto, que só ocorreria alguns meses depois, em dezembro de 1980. Chego lá, no momento devido da narrativa, logicamente.
Continua...

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