domingo, 31 de março de 2013

Autobiografia na Música - Boca do Céu / Bourréebach - Capítulo 55 - Por Luiz Domingues


De volta a falar da minha banda, infelizmente, nos últimos meses de 1978, as faltas do Osvaldo chegaram em um patamar insuportável, e na iminência do prazo limite para enviar nosso material ao festival do Teatro Paulo Eiró, resolvemos desistir de enviá-lo. Ficamos chateados mais uma vez, pois caracterizou mais uma derrota. Ao mesmo tempo em que eu e Laert melhorávamos, a banda andava para trás, com a desanimação do Osvaldo, e a falta de comprometimento mais incisivo do Zé Claudio. Este último, não faltava nos ensaios, mas era nítida a percepção que tínhamos, eu e Laert, que ele não vestia a camisa da banda, e estava ali só a observar o que poderia ocorrer. Tudo bem, era um direito dele pensar e agir assim, mas não era o que desejávamos, ainda mais com o Osvaldo a entrar em uma fase de distanciamento de nossos ideais. Dessa forma, resolvemos adotar o mesmo procedimento que havíamos tido em relação ao baterista, Fran Sérpico, no início do ano, e marcamos um encontro com o Osvaldo, para que ele esclarecesse o motivo de suas faltas constantes. E tudo revelou-se da pior maneira para a nossa banda... ele foi honesto, e disse que não estava mais com vontade de tocar, pois estava a namorar, e assim, por focar em outras motivações na sua vida, naquele momento. Portanto, foi mais que um distanciamento da banda, ele estava a distanciar-se do próprio Rock, como instituição, ideal e modo de vida. Nesses termos, impossível contra-argumentar, e foi assim, que o membro fundador, e iniciador da primeira fagulha, partiu. Fiquei chateado, claro. Na prática, o Osvaldo foi o amigo que abriu-me a primeira porta na música. Se isso borbulhava loucamente na minha cabeça há anos, concretamente a descrever, só fui engajar-me mesmo a partir do convite dele, em um dia qualquer de abril de 1976. Antes, apenas tinha o sonho na cabeça, e formulações fictícias a partir de 1975, quando formei duas bandas que nunca chegaram nem perto de um instrumento musical (Satanaz e Medusa). Aquilo fora apenas uma ideia na cabeça, e embora chegássemos a compor horríveis músicas, só na base de melodias e letras bisonhas, sem a intervenção de instrumentos, foi só a partir daí, que fui engajar-me com a música (Boca do Céu), pois o Osvaldo tocava e tinha uma guitarra "de verdade"... mas, fazer o quê ? O amigo entrou em outra expectativa, cortou o cabelo, passou a andar vestido como o John Travolta, e a frequentar Discothéques. Se perdera o vínculo primordial de 1976 (na verdade não perdeu, muitos anos depois eu tive o prazer de saber disso), nada poderíamos fazer, a não ser acatar sua decisão, e tocar a vida para a frente. O Zé Claudio, por incrível que pareça, surpreendeu-nos, pois aceitou prosseguir, mesmo com a saída do Osvaldo. Dele que tínhamos a impressão de ser um rapaz alheio, ficou essa surpresa positiva. 
As garotas também ficaram divididas com a saída do Osvaldo. Se com ele, as coisas estavam devagar, com a desclassificação prévia do FICO, e a nossa própria desistência em relação ao festival do Teatro Paulo Eiró, agora abatera-se um desânimo, também sobre elas. Dessa forma, nem Eva, nem Pollyana Alves ficou... perdemos Janis Joplin e Karen Carpenter, de uma só vez...
Ao final do ano de 1978, o Laert estava também preocupado com o vestibular, e assim, a precisar estudar, e eu às voltas com o alistamento militar. Estava na quarta chamada, e já havia até tirado medidas de farda; capacete e coturno. Uma quinta e decisiva chamada estava marcada para janeiro de 1979, e mostrava-se como uma perspectiva sombria que poderia atrapalhar-me, e muito, nos meus planos para seguir na banda.
E assim encerrou-se 1978, um ano muito difícil para o Boca do Céu / Bourréebach, onde só tivemos revés; adversidades; perdas, e regredimos em muitos aspectos, praticamente a perder a evolução que tivéramos em 1977.


Continua...

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