segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 14 - Por Luiz Domingues

 
O Fernando "Mu" pediu à Virgínia, para que ela escondesser o material na sua calcinha, e se algum policial a tocasse, que ela fizesse um escândalo, a exigir uma policial feminina, e na confusão, se aparecesse uma policial, desse um jeito de jogar o pacote no barranco. Por sorte, não havia policiais femininas, mas mesmo assim, a blitz foi tensa, com os policiais a imprimir aquele terrorismo típico por uns quarenta minutos. Sem meios de incriminar-nos em nada, fomos liberados, mas com os policiais ainda a fazer ameaças, ao anotar a placa da Brasília preta de Paulo Eugênio, e dizer-nos que seríamos vigiados dali até São Paulo etc.
Eu usava cabelos compridos desde 1971. Entre 1971 e 1974, eram comedidos, pouco abaixo do pescoço, mais a seguir a moda que espalhara-se pela sociedade em geral (até o Cid Moreira foi "cabeludo", a narrar o "Jornal Nacional"...), mas de 1975 para frente, já com 15 anos de idade, virei Hippie de vez, e aí o cabelo comprido tornou-se mais que uma opção estética, mas um símbolo a representar toda uma gama de ideais da contracultura. Em 1978, o Cido Trindade tinha cortado o cabelo curto, radicalmente. O Paulo Eugênio e o Gereba não embarcavam nessa, e tinham visual de playboys, com cabelos bem cortados, além de usar roupas de grife etc.

Mais pareciam frequentadores de clubes de discothéque, e o Fernando "Mu", havia recentemente cortado a sua longa cabeleira também, após mais de dez anos de resistência em prol dos ideais.
E o Wilson também seguia essa linha de rapaz bem comportado, com cabelos curtos e no uso de trajes tradicionais. Eu lembro-me bem que de todos os Freaks que eu conhecia no meu bairro, desde 1977, ali no ano de 1980, eu era o único ainda cabeludo, e ganhei nessa época o apelido de, "O último dos Moicanos", por não aderir à essa tendência em romper com os ideais contraculturais cultivados nas décadas de 1960 e 1970, ou seja, emblemática ao extremo, tal situação fora mais um inequívoco sinal dos tempos, e que só avançou no decorrer da década de oitenta. Falei tudo isso porque acho que o fato de só eu ter aparência rocker, ali naquela Blitz, pode ter aliviado um pouco a situação, visto que se todos tivessem aparência de hippies / freaks, os policiais teriam sido ainda mais truculentos.
Como ali em Trindade, demarca-se praticamente a divisa entre estados, resolvemos voltar em direção a São Paulo, e pararmos em uma cidade qualquer. A primeira parada foi em Paraty, ainda no estado do Rio. A cidade é uma graça, de tão bonita, mas em clima de carnaval e a chover, não havia vagas em hotéis ou pensões. Dessa forma, seguimos de volta ao nosso estado, e paramos em Caraguatatuba, onde passamos o restante do domingo. E mais uma vez sem achar acomodações e sob chuva. Foi uma experiência claustrofóbica passarmos a madrugada esmagados dentro de uma Brasília. E assim, passamos a segunda-feira, quando finalmente alguém teve a brilhante ideia em acabarmos com aquela tortura, e voltarmos à São Paulo. A próxima apresentação, seria no mesmo bar Lei Seca, marcada para o dia 23 de fevereiro de 1980, e nesse show, teríamos surpresas, uma agradável e outras, curiosas.

Continua...

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