sábado, 20 de outubro de 2012

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 6 - Por Luiz Domingues

Após o show ao ar livre, realizado na Estação São Bento do Metrô, e por termos definido um nome para a banda, partimos para um projeto novo que daria novo impulso à nossa trajetória : a gravação de uma fita demo, não para levar em gravadoras, e pleitear assim uma suposta contratação, mas para vender de mão em mão nos shows, e assim obter lucro, e ao mesmo tempo, tratar em espalhar o trabalho de uma forma mais abrangente. Além do mais, como nesses primeiros tempos raramente tocávamos com equipamento minimamente profissional, o grande trunfo de nosso trabalho estava por ser mal explorado, isto é, as letras sob forte apelo satírico; a conter duplo sentido em alguns casos e com uma dose generosa de sarcasmo etc. 
Dessa forma, sentíamo-nos frustrados com essa deficiência técnica que prejudicava o entendimento de nosso trabalho, e a ideia em obter o material gravado, seria uma solução e tanto. E outro aspecto interessante e inerente à época, deu-se com o fato de que ninguém sonhava em lançar um disco independente naquele momento. Ou você era contratado de uma gravadora, ou era considerado um artista "amador". 



Naquele ano de 1980, havia apenas dois discos lançados no mercado sob forma independente (o do tecladista, Antonio Adolfo, "Feito em Casa", que fora lançado em 1977, e o da Patrulha do Espaço, em 1980, mesmo) e assim, seus respectivos lançamentos geraram grande polêmica, pois até ameaça de processo sofreram, sob a estapafúrdia alegação de que "violavam os direitos exclusivos da áudio difusão da indústria fonográfica"...

Equivaleria dizer em 1888, que os escravos violavam o direito dos fazendeiros explorar suas terras sem o ônus de ter que pagar salários aos trabalhadores, a tornar a libertação, um ato antieconômico... 

Então, gravamos entre os meses de outubro e novembro de 1980, no estúdio de ensaio da banda, "Cia. Ilimitada", que atuava na noite, a tocar covers. Esse estúdio cresceu, e tornou-se propriedade do tecladista, De Boni, que tocou com “O Terço” nos anos 1990, e que tocava no Cia. Iltda., naquela época. Foram gravadas dezoito músicas, sob um plano de gravação ao vivo, com pequenos overdubs, apenas. Foi uma demo sem nenhum requinte, mas que serviu aos propósitos, e coube no modesto bolso da banda naquela ocasião. Feito isso, pensamos em uma embalagem criativa, barata, e batizamos essa fita com o nome: "Sutil Como um Cassetete".

Continua...
 

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