domingo, 21 de outubro de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 23 - Por Luiz Domingues

No início, tudo correu dentro do planejado, com a banda a ensaiar aos sábados a partir das quinze horas até às dezenove, mais ou menos. Mas logo começou os problemas...


O barulho tratou por a incomodar a vizinhança, e várias vezes tivemos reclamações nesse sentido. Até aí, normal, pois o quarto de ensaio não tinha nenhum preparo acústico, nem mesmo as inevitáveis caixas com ovos coladas pelas paredes, típica medida barata de quem deseja amenizar um pouco o problema. Mas o pior mesmo, só foi acontecer algum tempo depois, e por um triz, evitei um mal maior, ao produzir constrangimento aos meus pais. Foi que além da banda, começou a surgir amigos para assistir os ensaios. Até aí, tudo bem. Mas isso precipitou também a aparição de amigos dos amigos, e chegou-se em um ponto, pouco tempo depois, que escapou do controle, com pessoas sem conexão com ninguém ali, que estivessem presentes ali. Minha residência tornou-se um ponto "freak” aos sábados. Teve dia em que eu cheguei a contar vinte e cinco pessoas espremidas dentro do quarto, com a janela fechada, sob um calor incrível. Isso não foi o maior incômodo. O problema maior fora o entra e sai de cabeludos, que começou a chamar a atenção da vizinhança. Por azar, meu vizinho da direita (ha ha ha... apenas coincidência aquele senhor morar ao lado direito de nossa casa...), era policial militar, tenente ou capitão, não lembro-me. Ele era gentil no cotidiano, mas começou a ficar incomodado, na verdade, transtornado com o barulho, e com razão, diga-se de passagem, pois ele tinha netos pequenos. Não posso acusar, mas desconfio que ele tomou algumas medidas...



Pois um dia, um hippie do bairro, chamado, "Canton", que inclusive era meu colega de escola, veio dizer-me que ouvira um rumor de que a polícia estava a rondar a minha residência, e que preparava uma batida para qualquer instante. Foi enfático ao dizer-me que eu deveria eliminar o quanto antes esses ensaios, pois eles iriam enquadrar todo mundo. Ah... os anos setenta... como tenho saudade de muita coisa, mas da ditadura, absolutamente não ! Infelizmente, a despeito dessa arbitrariedade poder acontecer pelo fato de vivermos naquela época, sob atos inconstitucionais que legitimavam-na vergonhosamente, poderia lograr êxito uma investida dessas por um aspecto : ao fugir do meu controle, algum freak desses poderia portar drogas, certamente, e aí, sobraria para eu, o dono da casa, e consequentemente, meus pais “arrancar-me-iam o couro”. De fato, várias vezes tive que pedir aos convidados, que apagassem seus cigarros compostos por material ilícito, e pior, cheguei a flagrar várias vezes, doidos a sacar comprimidos (as ditas,"bolas"), de suas bolsas, e fazer uso desse material, ali dentro. 




E uma vez, no clímax, flagrei um casal no banheiro da edícula, prestes a usar ampolas. Era um "Christiane F." a acontecer fora do meu controle, e para piorar, eu não fazia a menor ideia sobre quem eram essas pessoas !
Continua... 

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